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Celso Fonseca

Publicado por: Pê Martins em 11/06/2007


Músico, compositor, produtor, arranjador e intérprete dos mais refinados, Celso Fonseca é também um querido e antigo amigo da casa.

Prestes a lançar um novo trabalho, Celso gentilmente abre o jogo nesta entrevista, e fala do novo CD, "Feriado", e de quebra, dá uma posição sincera sobre o andar do mercado, internet e muito mais.

Confiram!

Leia na íntegra
 

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Seu novo disco chama-se "Feriado", que também é o nome de uma antiga canção sua. Qual o conceito?

“Feriado” é um fim de semana na praia com os amigos. Se é que existe um conceito por trás, é o de me divertir enquanto carrego pedras.

O repertório reflete bem isso...

O repertório foi todo sendo construído à partir de músicas que eu já cantava em shows fora mas que nunca tinham sido gravadas, e também outras que eu já tocava com amigos no estúdio e na estrada. Foi todo gravado nos intervalos das tournées que fiz esse ano e ano passado. Não é um disco todo autoral.

Mas ainda assim surpreende e traz releituras suas bem interessantes...

De coisas minhas,tem por exemplo a própria música “Feriado”,que já havia sido gravada no “Rive Gauche Rio”, com um novo arranjo. Convidei o Benjamin, um amigo americano de Chicago que mora aqui no Brasil e participa da banda de Hip Hop carioca ,“A Filial “.

Ele fez um rap e coloca ainda mais molho na canção que eu sempre classifiquei como um samba vagabundo. Desses despretensiosos, sem muita preocupação com a letra e que servem mais para levantar a platéia nos shows.

O disco conta com a participação de vários outros convidados. Quem são?

Na nova versão da música “ Viajando na viagem”,que foi uma das sobras do meu “Natural”, chamei o Marcelo D2, que mostrou que é mesmo um talento incrível. Ele fez questão de escrever a parte dele no estúdio mesmo. Ouviu a canção, me pediu um papel e uma caneta e, em vinte minutos, estava pronta a rima que ele gravou.

Dois amigos talentosíssimos que fazem programações de bateria e são da cena hip hop carioca: o francês Damien Seth, que já mora no Brasil há dez anos, e o MC Marechal. Quer dizer, falando assim,parece que fiz um disco centrado em samba e hip hop, mas não é. As coisas foram acontecendo naturalmente e como falei, as canções foram amadurecendo aos poucos na estrada.

Tem também a minha turma de sempre. O baterista Alexandre Fonseca, o pianista Jorjão Barreto ( que foi da Black Rio e também meu companheiro de estrada com o Gil ), e o gaúcho Guto Wirtti, talentoso baixista que toca comigo. Além desses,aproveitei o naipe de sopros que tem tocado comigo desde 2005. Três músicos muito jovens de grande talento : Bruno Santos no trompete e flugelhorn, Josué Lopes no sax e flautas e Rafael Rocha no trombone.

Chamei também minha querida Mart’nália para tocar percussão com mais dois percussionistas da banda dela. O Donatinho toca em algumas faixas, e a Cecilia Spyer faz vocal comigo junto com uma nova amiga do MySpace, Monica Freire, cantora brasileira que mora no Canadá.

Como foi produzir e costurar este projeto?

Pela primeira vez, não produzo um disco meu sozinho. Convidei o Liminha para dividir essa tarefa comigo e de quebra ele ainda toca umas linhas de baixo inacreditáveis em alguns tracks. Gravar ”Feriado” foi pura diversão.

Além de releituras de canções suas, quais as outras músicas?

Gravei uma música que eu adoro,composta pelo inglês Jamie Cullum. Chama-se “Next year,baby” e faz parte do CD “Twenty something”. Ficamos amigos desde que ele foi duas vezes ao meu show em Londres,em 2003.

Nessa canção que gravei como um samba,ele fala de todas aquelas resoluções de Ano Novo que tomamos mas que nunca se concretizam. A letra sempre mexeu muito comigo e também é uma homenagem à ele,um artista jovem que eu admiro muito.

Tem Jobim também.

Isso, tem também "Águas de Março", que eu sempre quis gravar mas nunca tive oportunidade. Dessa vez ela aparece com uma programação eletrônica que eu fiz junto com o Alex Fonseca. Para mim, sem ter como fugir do clichê, é um dos sambas mais bonitos do mundo.

Além dessas, gravei minha versão de “Se ela dança eu danço”,do MC Léozinho.

Que é ótima, soa intimista, sem deixar de ser dançante.

Adoro a canção e quis fazê-la do meu jeito, como já havia feito há dez anos atrás com "Conquista", do Claudinho e Buchecha. Também tem "Voce não entende nada", do Caetano, que eu já cantava em shows.

Como você define o seu trabalho?

Meu trabalho pode ser definido por tudo o que eu ouví desde criança. Nunca estive preso a nenhum tipo de preconceito ou estilo musical. Minha música tem elementos de Bossa Nova tanto quanto tem da música erudita, do rock, de Egberto Gismonti,de Burt Bacharach, trilhas sonoras diversas,Jazz,soul , disco e R & B americano dos anos 60 e 70. Uma salada!!!

A música que faço,tenta reproduzir a que eu ouvia num radinho de pilha embaixo do meu travesseiro. Antigamente, como você bem sabe, ouvíamos de tudo no rádio. Canções pop que já tocavam nas novelas, Tom Jobim e Baden, Beatles, Led Zepellin e Jackson Five…

As seleções do Big Boy, e mais tarde as da Rádio Cidade no final dos anos 70, estão entre as melhores coisas que o rádio brasileiro já produziu. Sem falar na música progressiva que tocava aos sábados num programa chamado "Sessenta minutos de música contemporânea". Alí ,eu ouvia muito Yes, Genesis, Gentle Giant e Pink Floyd.

Eu tocava tudo isso "de ouvido", e também posso incluir esse repertório todo como uma grande influência na minha formação musical.

Você começou a tocar relativamente cedo. Qual foi o pontapé inicial?

O grande divisor de águas,foi o dia em que eu ví um violão de perto pela primeira vez. Meus primos mais velhos tocavam violão e meu tio fazia uns saraus na casa dele de vez em quando.

Quando eu tinha por volta dos oito ou dez anos, ví um violão em cima de uma cama na casa desse tio, ( que não era músico e sim amante de música - como também meu pai ,que era médico ). Desde então não fiquei sossegado enquanto não ganhei um instrumento.

E profissionalmente?

Foi depois disso, muito mais tarde, quando eu já estava iniciando meu curso de Comunicação na PUC do Rio. Quando fui à São Paulo ver um dos primeiros festivais de jazz realizado no Brasil.

Qual?

O "São Paulo/Montreux Jazz Festival". A partir dalí, decidi estudar música sériamente e passei a tocar em várias bandas de jazz no Rio, como a do trompetista Marcio Montarroyos. Quando conheçí o Gilberto Gil e passei a fazer parte da sua banda, fui deixando aos poucos o curso de comunicação até abandonar a faculdade completamente. Daí em diante virei mesmo profissional.

O David Hadjes (antigo produtor do Toninho Horta) costuma dizer que você é o João Gilberto dessa nova geração. O que você sente quanto a isso?

Acho engraçada a comparação do David, mas não acho que devo ser comparado nem de longe ao João. Ele foi o grande inventor dessa maneira de tocar samba que as pessoas costumam chamar de Bossa Nova. Não se pode imaginar o samba tocado e cantado desse jeito antes dele.

Eu, como tantos outros,sou apenas um seguidor distante do que ele faz realmente. E como falei antes, não me prendo ao repertório de Bossa Nova. Toco e componho coisas de gêneros bem diferentes.

Como é o seu processo de composição?

A composição, e todo esse impulso que me leva a compôr, ainda é um grande mistério para mim. Escrevo canções há mais de vinte anos e ainda não compreendo nem domino todo o processo. A música se manifesta das mais diferentes maneiras. Pode vir no carro,enquanto estou dirigindo,ou no avião,ou no quarto do hotel. Acho que é assim com quase todo mundo.

As idéias podem vir de experiências pessoais , de um livro, de um filme, de um artigo de jornal,ou simplesmente de um título que vem a cabeça - como “Samba é tudo” e “Slow motion Bossa Nova” – só para citar duas que foram feitas à partir do nome.

A motivação pode vir também de músicas de outros compositores que me emocionam. Tem também aqueles períodos em que a gente pensa que não sabe mais compor. Os dias vão passando e nada vem. Nem música,nem letra, nem idéia…

E aí?

Aí, nessa hora, o melhor é relaxar e pensar em outra coisa. Não dá prá forçar a natureza… De repente, do nada também, surge uma nova canção no momento em que não tem mais a pressão interna de fazer a música.

E quando existem prazos?

Quando existe a pressão – no caso de trilhas sonoras ou qualquer outro trabalho com prazo definido – o santo baixa e a música acontece ! É realmente um mistério que eu não domino. Simplesmente aceito as limitações e obedeço às ordens da deusa música…

Se fala muito em gravadoras, nos problemas com elas, mas a realidade é que para um artista gravar, produzir e divulgar seus trabalhos, existem caminhos alternativos. Ou não?

Esse é um assunto muito longo, que dá margem a muita discussão. Eu prefiro achar que hoje em dia,com todos os canais alternativos que não existiam há algum tempo atrás na Internet, como o MySpace, YouTube, Last.FM e outros, tudo vai fivando mais fácil.

É a música direto aos consumidores, sem intermediários, empresários, gravadoras. Cada um se identifica com aquilo que gosta e pode interagir com isso.

A Internet é realmente o ”canal”?

Na verdade, ainda acho que o grande canal é o show ao vivo. Nada substitui o cara alí na frente do público mostrando suas canções , emocionando a platéia e sendo estimulado por ela. Isso o YouTube ainda não conseguiu substituir…

É moda dizer que o Brasil anda carente de novos artistas, quando o que se percebe, na realidade, é o extremo oposto. O que pode ser feito?

Não sei … Acho que talvez o caminho fosse mostrar a diversidade. Isso a Internet faz, mas acho que o mercado deveria entender que o mais importante é mostrar a música em todas as suas manifestações, independente de estilo.

Cada ouvinte e consumidor acabaria encontrando espaço para ouvir o que gosta. Sempre existe espaço para muita coisa. Investir na monocultura nunca foi bom negócio a longo prazo.

Música é algo sem data de validade, sem prazo de vencimento...

Sem dúvida. A música na qual eu acredito é a música atemporal. Essa vai estar sempre na moda e isso não tem nada a ver com estilos ou classificações.

É que o mercado está sempre atrás do próximo sucesso.

Mas ainda se consome Bach, Debussy, Cole Porter, Miles Davis, Tom Jobim, Beatles e Pink Floyd. A música do futuro é a que nunca se perdeu no passado.

Dessa maneira, acho que os meios de comunicação de massa deveriam deixar de impôr uma única coisa para todo mundo. Dá saudade da inocência de um tempo em que era o ouvinte quem determinava o que seria ou não o próximo sucesso nas rádios. Era só ligar e pedir.

Qunto mais folclórico, mais internacional. Isso continua valendo? O brasileiro continua descobrindo o Brasil pela lente do estrangeiro?

"Se queres ser popular cante a sua aldeia". Acho que foi Tolstói quem falou isso,não ? A frase nunca foi tão atual. Existe um Brasil absolutamente desconhecido de nós no exterior. Assim como temos a folclorização do samba, das mulatas, da caipirinha e de outras “Carmens Mirandices” no exterior, existe também um interesse genuino pela diferença e diversidade da nossa música.

Todos aqueles DJs que os brasileiros cultuam por aqui, estão na platéia dos meus shows e também nos de Marcos Valle, Joyce, Bebel, Vinícius Cantuária… Todos vem beber na nossa fonte. Eles querem saber como se faz música tocada de verdade. Vibram com nossos instrumentistas, babam com nossa diversidade harmônica e rítmica. Querem saber de tudo, para depois reprocessar à maneira deles. Parabólicamará…

Quanto ao fato do brasileiro dar valor ao artista só depois que ele faz sucesso fora, acho que não é bem verdade. No meu caso e no da maioria desses artistas que eu citei, acho que não faz nenhuma diferença. Continuamos fazendo sucesso fora e ignorados pela maioria da midia brasileira…Talvez se tocássemos na rádios convencionais mais populares, isso fizesse algum sentido.

O que quero dizer é que na verdade,grande parte do público brasileiro nem sabe que existimos. Falo isso sem mágoa ou ressentimentos. Só acho realmente uma pena…O que eles vêem em nós no exterior poderia ser motivo de grande orgulho por aqui. Como sou um otimista incorrigível,ainda espero que o santo de casa faça o seu milagre.

Você completou recentemente um ano no MySpace. Enquanto ferramenta, a idéia parece ter te agradado. No que o uso da ferramenta refletiu positivamente no seu trabalho?

O MySpace, como falei antes, é uma grande ferramenta para a comunicação direta entre músicos do mundo inteiro. Tenho conhecido artistas incríveis e outros tantos tem aparecido querendo fazer algum trabalho junto comigo.

Isso já aconteceu algumas vezes nesse espaço de um ano. Para você ter uma idéia, um dia recebo um MP3 de uma canção minha interpretada por uma cantora e guitarrista. O detalhe: a canção foi traduzida e mandada para mim cantada em russo!

Algum aspecto negativo?

O lado ruim de ter muitos amigos no MySpace é que perdí completamente o controle. Gosto de escrever de volta, responder aos fãs…De um tempo prá cá isso foi ficando impossível.Ou eu passo o dia no computador administrando isso ou faço minha música…

No exterior, você vem conquistando cada vez mais espaço nos Ipods, e também no ITunes. Como avalia este mercado?

Acho que é um mercado promissor e que ainda engatinha. Hoje em dia temos a música baixada também para os celulares. Outras tecnologias e maneiras de divulgação virão.

Sem receios, então...

Acho muito estimulante viver tudo isso agora. E viva o futuro !

Vídeos:


 
 

Referências na Internet


    Site oficial
    MySpace
    Last.FM
    Trig

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Comentários para este post

felipe comentou em 12/07/2007 e diz:

Adorei a entrevista. E também adoro o Jamie Cullum. Gostaria de saber se o Celso tem um endereço de e-mail pra que possamos trocar algumas figuras sobre o universo musical. Desde já agradeço. Abraços.



 
 

     
     
 
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